Opinião

Dono da ideia – Totonho Laprovitera

“Pergunta sempre a cada ideia: a quem serves?” (Bertolt Brecht) 

Pensando que nada é um conceito normalmente usado para descrever a ausência de qualquer coisa; e tudo é a totalidade ou universalidade das coisas que existem, eu cogito: Se a arte é nada, então, ela é tudo! Afinal de contas, Deus tirou ou não tirou o mundo do nada?!

Mudando o rumo da conversa, certa vez ouvi um criador dizer a um pidão de ideias: – “Não me peça de graça a única coisa que tenho pra vender.” 

Quando reparo a relação de quem cria com quem “atravessa”, noto que a usurpação de ideias está cada vez maior. E é porque no Direito Penal se configura como crime de apropriação ilícita. 

Pois é, há muito, as apropriações viraram costume natural e corriqueiro. Nas placas de inauguração de prédios – públicos ou privados – por exemplo, é muito raro constar os nomes dos responsáveis técnicos pelo projeto e obra. 

A citação dos nomes dos profissionais não se configura em homenagem, mas sim informação de registro técnico e histórico. Questão de respeito e responsabilidade na produção de arquitetura e engenharia. Mas pra que serve mesmo uma placa de inauguração? 

É, se deixarmos as coisas desse mesmo jeito, lamentavelmente, a cultura de valorização autoral continuará indo pras cucuias. Embora eu entenda que nossas vidas são repletas de pessoas expressivas, eventos marcantes e datas inesquecíveis, eternizá-las em uma placa de inauguração é, no mínimo, marcar o legado de gratidão e reconhecimento para as gerações vindouras. 

Mas existem as vaidades dos tolos, egoístas e gananciosos. Lembrando deles, um governante de uma terra distante queria porque queria um selo com sua imagem. Seu gabinete gostou da ideia e realizou o plano. Então, ele aprovou e autorizou fazer 10 milhões de selos. Quando o selo ganhou o mundo, o governante ficou cheio d’água! 

Todavia, em poucos dias, ele ficou fulo da vida ao escutar queixas de que o selo não colava nos envelopes. Aborrecido, ele convocou os responsáveis pela confecção e emissão do selo, ordenando rigorosa investigação.

Comissões, grupos,  subgrupos e equipes pesquisaram as agências dos Correios de todo o país, ouviram usuários, balconistas etc e, finalmente, descobriram  o  que estava ocorrendo. O relatório, de mais de mil laudas, entregue um mês depois, descrevia, na sua conclusão: “Nada desabona a qualidade dos selos. O problema é  que o povo está cuspindo do lado errado”.

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