Opinião

As obras de Diego Sann (1988) são registros duplos do centro da cidade de Fortaleza – de um lado o patrimônio arquitetônico do século 19 e início do século 20 que ainda resiste, e do outro o lado a rua, os seus habitantes miseráveis, os “carroceiros”. Uma composição feita como em uma fotografia documental, frontal e de estudo meticuloso de fachada. A série é intitulada “Inciativas de Sobrevivência”. Uma imagem aparentemente austera, mas que revela um duelo contrastante que acostumamos-nos a ver sem enxergar, um embate entre o público e o privado, entre o protegido e o esquecido, a vida e a morte. A decisão do uso de blocos de cores também amplia essa dualidade. Espelhando a realidade, as gravuras nos pedem um segundo olhar para perceber o que está à margem, o que não deveria pertencer àquele conjunto pictórico, mas invariavelmente transformou-se em paisagem urbana.

Vale ressaltar que a técnica utilizada pelo artista nessas obras é a xilogravura. A importância da xilogravura na região Nordeste do Brasil é potencializada devido a seu arraigamento à cultura através da literatura de cordel, reminiscente de tradições portuguesas medievais de impressão. Diego Sann é um dos jovens artistas de Fortaleza que utilizam a gravura em madeira como seu principal meio de expressão, e o que certamente o vem fazendo de maneira mais consistente. Na maré contrária ao aparente desinteresse da nova geração pela técnica, ele se apropria dela com maestria e a aproxima de novas temáticas contemporâneas.

Diego Sann estudou na Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho e no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), e aprendeu com mestres da gravura como Sérgio Lima, Abelardo Brandão e Nauer Spíndola. A constante aceitação de suas obras por júris em salões, bienais e festivais internacionais denota a sua qualidade técnica e refinamento estético.

Em setembro deste ano ele participa da 11ª Triennale Mondiale de l’Estampe em Chamalières, França. Um artista pra ficar de olho e colecionar enquanto é cedo!