Opinião

Das vantagens do hiperrealismo – Aldonso Palácio

Marc Sijan, Embrace, 2014, resina de poliéster e tinta a óleo. (Foto: Caroline Domingues)

Em tempos de redes virtuais e tantos corpos fictícios, como aceitar a beleza hiperbolizada do sujeito nu e cru, real? Essa foi a questão que me desafiou à reflexão durante a visita à exposição ‘Hiper-realismo, Isso não é um Corpo’ (Hyper-Réalisme – Ceci n’est pas un Corps) que ficou em cartaz no Musée Maillol, Paris, até o dia 05/03/2023. A exposição reuniu o trabalho de 30 artistas de diferentes nacionalidades, produzidos em diferentes épocas. Conta, portanto, a evolução das obras interessadas em reproduzir o corpo humano na sua perfeição.

Como esculpir a emoção do rosto humano, recriar as veias, as unhas sujas, as rugas e as dobras que vão surgindo no corpo à medida que envelhecemos? É espantoso observar esses detalhes nas obras de artistas como Sam Jinks e Marc Sijan.

Na obra ‘Embrace’ (2014), por exemplo, o artista norte-americano Marc Sijan quase nos convida a fazer parte do abraço. É o corpo que se deixa cair sobre o outro. Ficamos hipnotizados com a reprodução de um abraço entre um homem e uma mulher de meia idade. Vemos a delicadeza nas mãos, nos sinais do corpo, nos pelos, no engelhamento da pele quando encontra outra. Sijan consagra a maior parte do seu tempo em reproduzir minuciosamente os seus modelos vivos. Ele parece capturar o momento preciso de um gesto ou no surgimento de uma emoção em suas esculturas. É por isso que ver ‘Embrace’ é quase como se estivéssemos também a nos abraçar.  

A exposição ‘Hyper-Réalisme’ foi um convite, portanto, para olhar o corpo humano a partir de uma nova, ou nem tão nova, perspectiva. Nos incita a abraçar nossa própria natureza humana e nos desafia até onde podemos ir seguindo ou não a realidade. (Texto de Caroline Domingues, correspondendo de Paris)

 

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