Opinião

Daniel Chastinet, o desafio de estar sensível e a metáfora do bumerangue – Aldonso Palácio

Daniel Chastinet, Despensa, 2020, óleo sobre compensado, 41 x 20 cm

Daniel Chastinet (Fortaleza, 1985) é artista visual que tem na pintura e no muralismo suas principais formas de expressão. Formado em engenharia civil e habilidoso ilustrador, antes de ter qualquer aptidão com tinta e pincel, coloria seus desenhos à nanquim de forma digital. A curiosidade para a pintura surgiu das tintas de artesanato de sua mãe, com as quais ele então tentava simular o processo que fazia no computador. Desde então Daniel Chastinet vem aperfeiçoando a técnica em inúmeros cursos e workshops, criando um percurso próprio que ainda está se desenhando, sempre atento ao que a pintura está pedindo dele no momento. Num determinado ponto o método a óleo abriu a ele um novo mundo de possibilidades de livros, materiais, suportes e teorias. A pesquisa e o aprofundamento fazem parte da rotina de trabalho do artista.

Os temas de Daniel Chastinet estão em constante transformação. Uma constante que podemos observar na sua obra é a exploração com distorções do corpo – “Às vezes é um jogo de encontrar maneiras de preencher o espaço da tela. Por outro lado é como uma forçada despreocupação com a anatomia, tentando brincar com a percepção de exagero e realidade”, diz ele. Paralelamente ele também se dedica à prática de uma pintura formal de portraits e naturezas-mortas que revelam cenas do cotidiano, algo que aflorou durante a pandemia. Neste caso é como se ele encarnasse um de seus professores, atento tanto à técnica pictorial quanto à percepção do entorno. Daniel confessa que essa variação de temas às vezes o trava um pouco: “Fico me perguntando o que devo pintar no momento, como se essa resposta viesse de um lugar fora de mim. Acho que dentro de todos esses estudos e temas o maior desafio é estar sensível. Existe um lado do trabalho diário e repetitivo, mas dentro disso é preciso uma atenção à inspiração, ao desenho, vontade do que o corpo/mente precisa expressar na hora”, revela o artista.

Quando indagado sobre o propósito da arte na sua vida, ele responde: “Vez ou outra a gente se pergunta do porquê fazer o que faz. Tem um lado bem objetivo que vê a parte profissional e questões práticas como pagar os boletos. Mas não é muito difícil enxergar como um caminho da vida e de crescimento. É como um bumerangue. Que joga-se com intensidade para fora mas sempre volta para você. E cada vez que ele vai e volta você está diferente, e ele leva e traz coisas diferentes. É sempre ter algo pra jogar e sempre ter algo pra receber”. 

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