Opinião

Cindy Sherman tornou-se uma das artistas contemporâneas mais reconhecidas no mundo, fotografando a si mesma incorporada em múltiplos personagens multifacetados, às vezes caricatos e grotescos, que conversam com a cultura do cinema, televisão, revistas, internet  e história da arte. Cindy Sherman antecipou e mantém-se relevante em questões sobre o culto e mito da construção de identidades imagéticas tão proliferadas pela nossa geração instagramável. Pela primeira vez, em seus mais de 40 anos de carreira, ela apresenta obras não fotográficas: tapeçarias. A Galeria berlinense Sprüth Magers apresenta neste momento em seu espaço em Los Angeles uma mostra individual com a produção têxtil recente da artista. Quando transforma suas imagens produzidas através de aplicativos de face-tunning no celular em tapeçarias tecidas em Flandres, Sherman evoca uma antiga tradição fabril e a transcende ao espírito do século XXI. 

A artista Luzia Simons desde 2018 trabalha uma série de tapeçarias que partem de um pensamento semelhante, onde suas fotografias digitais de flores obtidas no scanner ganham nova profundidade e materialidade nas tramas e nós da tapeçaria artesanal belga. Quando um escanograma digital florido encontra os tecelões mestres da Flandres, ele evoca sentimentos anacrônicos, reavivando a tradição do millefleur do século XVI. Você não esperaria tal tapeçaria sutil de uma artista brasileira, mas Luzia Simons o faz intencionalmente como parte de sua permanente apropriação das tulipas como um símbolo de transferência cultural e sua busca de identidade como uma forasteira. Uma forma sofisticada de crítica como uma emuladora de padrões intrínsecos da cultura europeia. Sua mais nova peça será apresentada durante a ocasião da Berlin Gallery Weekend em uma exposição coletiva dedicada ao contemporary crafts na galeria Brutto Gusto, com texto de minha autoria. 

Saiba mais em www.spruethmagers.com e www.bruttogusto.berlin