Opinião

Construção e Arte – Totonho Laprovitera

A Ivens Dias Branco Júnior.

“Sempre vendi pra pintar, nunca pintei pra vender.” (Aldemir Martins)

Toda vez que eu passava pela Avenida Monsenhor Tabosa, no cruzamento com a Rua João Cordeiro, chamava-me atenção o prédio da Fábrica Fortaleza, com uma construção vertical contígua que expunha a alvenaria em tijolos cerâmicos.

A edificação, reservada à ampliação da fábrica, nunca cumpriu sua finalidade. A obra inacabada causava especulações diversas sobre a sua razão de ser. Aí, a Fábrica Fortaleza cresceu e para aumentar a sua capacidade produtiva mudou-se para a BR-116, no município de Eusébio.

Com a mudança, por sua localização privilegiada, o prédio deu lugar ao Hotel Praia Centro, com infraestrutura de gabarito internacional. Décadas depois, o equipamento hoteleiro se expandiu com a criação da “Fábrica de Negócios”, um grande e moderno centro de eventos privado. E foi por causa dela que eu entrei na história a seguir.

Atendendo encomenda, em 2009 pintei duas telas para compor a ambientação arquitetônica do lugar. Em meu processo criativo, contextualizei as imagens com a história da Fábrica Fortaleza. Aí elegi um dos biscoitos como referência de sucesso entre seus produtos. Quando estava à mesa do café rabiscando algumas ideias, pensei em voz alta o desejo de construir a minha pintura a partir de um módulo. Aí veio-me a surpresa: minha filha Joana fez um carimbo fiel ao formato de um Cream Cracker. Ora, a partir daí, eu me joguei na grande tela e ouvindo música taquei a carimbá-la, como um pedreiro que assenta “tijolo com tijolo num desenho mágico”. Depois das formas estampadas, derramei o encarnado cerâmico, colorindo “tijolo com tijolo num desenho lógico”. Pronto, estavam feitas as pinturas!

É assim. Enquanto a noite cai no infinito das estrelas, voam os pensamentos, dormem meus sonhos. O tempo em silêncio faz da vida uma viagem, um filme da história em que eu imagino existir. Invento calendários, as pelejas viro em sossego. Os dias me são uma medida divina e em suas pausas invento eras de espelhos. Farto a sede e a fome, para na calma namorar. A minha arte fala por si e eu apenas conto o que sinto pra ela. A minha arte me beija a vida e eu, a sério, brinco com ela. A minha arte não tem começo, meio ou fim. É uma estância singela e em canção pinta de luz os desenhos das minhas inspirações. Na arte da vida, a vida em arte. Amar a arte, a vida amar!

E, “pela paz derradeira que enfim vai nos redimir”, à Arte, “Deus lhe pague”!

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