Opinião

Caranguejos – Totonho Laprovitera

Antes de tudo, eu penso que o escritor deve ser um leitor e reflito que existem escritores que escrevem para outros escritores e existem escritores que escrevem para leitores.

Escrever é um grande exercício de vida. Dentre tantos aspectos, além de expressar ideias, ideais e sonhos, oferece o sentido de vivência coletiva de forma plena e verdadeira. Assim, ajuda na peleja contra a nulidade de só existirmos, à graça da busca de vivermos, elevando as coisas e as pessoas simples e humildes.

Seguindo em frente e mudando completamente de conversa, pense num bicho invocado e danado de bom pra se comer, esse tal do caranguejo!

Aqui na ensolarada Fortaleza, lá pelos anos 1970, no Batistão – famoso campo de peladas de futebol da época – ao ouvir o fotógrafo Januário Garcia comentar sobre o tamanho da fome do primeiro homem que comeu um caranguejo, eu emendei: – E traçou foi o bicho vivo e cru!

Pra quem não sabe, o vocábulo “caranguejo” deriva do castelhano “cangrejo”, oriundo do diminutivo latino “cancriculus” (pequeno cancro), tendo a mesma origem da palavra grega “câncer”.

Agora, não dá pra esquecer na barraca O Rebu, na Praia do Futuro de uns trinta anos atrás, do Nereu Barreira batendo seus seletos crustáceos, trajados e protegidos por carapaças escovadas, bem condimentados – a pimenta era do seu cultivo – deixando as demais mesas com a boca cheia d’água.

Tempos depois, lembro do dia em que o saudoso Zé Gogó comprou umas cordas de caranguejo para levar à casa de praia de um amigo, onde a turma do Círculo Militar estava passando o final de semana.

Dizendo-se especialista no preparo de crustáceos, foi à cozinha tratar do serviço. Pegou um panelão, encheu de água até a tampa para ferver e, juntos com os temperos de sua incomparável receita, rebolou os bichos para cozinhar. Daí, foi ao alpendre saborear seu costumeiro puro rum, com duas pedras gelo.

Conversa vai, conversa vem, a água foi esquentando e, em meio às ferventes borbulhas, os caranguejos sentindo aquele calor dos infernos se agoniaram e tacaram a escapulir da grande panela. Despencando da altura do fogão, desesperados, caíram ao piso e começaram a se espalhar por toda a casa.

Quando um pelotão chegou ao alpendre, um gasguito grito feminino denunciou a fuga do bando:  – “Chega, que os caranguejos estão fugindo!” Aí, foi um corre-corre danado e haja bebida pra passar o susto e o pessoal reorganizar a caranguejada do Gogó!

Deixe uma resposta

Compartilhe

VEJA OUTRAS NOTÍCIAS