Opinião

Cantilena – Totonho Laprovitera

“No mundo há muitas palavras, mas poucos ecos.” (Johan Goethe)

Não sei se é no mundo todo, mas aqui está muito esquisito. Tirando política partidária, com seus laços e nós, não se fala mais quase nada de outros temas. E o nível de fanatismo está cada vez maior. Ô coisa chata! Se alguém não pensa igual a outro, é porque não presta? É, está desse jeito e o Brasilzim cada vez mais divido. 

Até parece que o País vive a cultura das quermesses, daquelas do tempo do bumba, onde o cidadão era do partido azul ou do encarnado. Agora, ao invés do frango com farofa, hoje leiloa-se povo com galhofa. Aí, os incautos decoram palavras de ordem, chavões e mandam brasa na fala de convicções alheias. Os mais bestiais se engalfinham, como torcedores de geral em estádio de futebol. 

No dia-a-dia, o canto da perua se mistura com o da pavoa e tome cantilena do que ninguém imagina que vai piorar ainda mais. Aí, eu taco a matutar. Sei da importância da política na vida da gente, mas ela deve estar a favor do avanço da qualidade de vida de todos. Afinal de contas, valorizando a vida, a política é instrumento para nossa liberdade, igualdade e felicidade. 

Quem quiser pode achar ingênuo ou coisa parecida, por assim dizer. Ora, mas é muito bom ser ingênuo. Ingenuidade não tem nada a ver com tolice. É pureza de coração, artigo raro no sacolão das coisas boas da vida. E tem mais, respeitem a indignação dos ingênuos, pois eles têm a força dos humildes, seres do bem. Ingenuidade é brandura, candura, doçura, inocência, naturalidade, simplicidade, singeleza e suavidade. Talvez por isso, os ingênuos sejam menosprezados. 

Falando nisso, na década de 1960 houve uma promoção do Eucalol, que era o assunto nacional do momento e consistia no seguinte: quem encontrasse uma chave dentro do sabonete, ganhava um automóvel Aero-Willys 2600, novinho em folha! 

Em Sobral, cortaram um ao meio, puseram uma chave dentro, fecharam e lacraram bem a embalagem do produto. O ingênuo Miltão, ilustre sacristão da cidade e escolhido como felizardo premiado, ao tomar banho sentiu um arranhar nas costas. Avexadamente, torou o sabonete e achou a chave. Alucinado, correu nu pela rua gritando a sua sorte: – “Ganhei o Aero-Willys, ganhei o Aero-Willys, ganhei o Aero-Willys!” Isso, com o povo mangando e a vaia comendo de esmola! 

No mais, quem deslizou em pequenas e improvisadas pranchas de madeira nas dunas defronte ao Iate Clube de Fortaleza, no final dos anos 1960 e início dos 1970, sente uma saudade danada daqueles tempos, em que Fortaleza adolescia e navegava na ingenuidade que embala os sonhos dos corações puros e inocentes. 

Pensando bem, é tão ingênuo ser feliz… 

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