Opinião

Candidatos – Totonho Laprovitera

“Jamais separeis a criatividade da verdade e da caridade.” (Chico Pio)

Sucedeu-se no ano de 1954, quando das eleições estaduais no Ceará. 

Candidato à deputância estadual, um professor decidiu fazer seu comício na Praça dos Caboclos, próxima à Igreja do Senhor Bom Jesus dos Aflitos, mais conhecida como Matriz da Parangaba. Bastante cotado, então, o seu partido político – não sei se era União Democrática Nacional (UDN) ou Partido Social Democrático (PSD) – achou por bem convidar para o evento um de seus mais ilustres líderes nacionais, que estava em rápida passagem por Fortaleza. 

Com a praça coalhada de gente, naquela festiva noite tudo estava nos conformes, até o entusiasmado locutor se esquecer o nome da autoridade visitante e, com a voz exageradamente impostada, anunciar: – “Senhoras e senhores, neste exato momento temos a honra e regozijo de anunciar que está ascendendo a este nobre palanque o nosso altivo professor Fulano de Tal com… com… com o membro de fora!” 

Entre uma penca de gaitadas e assovios, a alencarina vaia comeu foi de esmola e o professor, todo desconcertado, ainda conferindo a sua braguilha, acenou ao público e começou o seu vibrante discurso, sem justificar o mal-entendido. 

Falando em comício, não tem quem possa com gente criativa, não. E comumente, a tal da criatividade é bem grudada na inovação. Mas pensando bem, uma das vantagens da criatividade é a dela ser uma forte ferramenta para se encontrar maneiras de fazer mais com menos. Agora, já ouvi um estudioso afirmar que em política, inovação é menos tecnológica e mais social, é menos exclusiva e mais inclusiva. 

Mas falando em tecnologias, playback é um recurso de áudio que utiliza uma gravação prévia de trilha sonora como base para músicas, acompanhamentos e diálogos. 

Pois bem. O primeiro discurso político em playback que tenho notícia foi realizado no interior do Ceará. Aconteceu lá pelas quebradas do ano de 2004, quando um filho da terra, há algum tempo dela ausente, foi impelido a se candidatar ao cargo de prefeito municipal. 

Ocorre que o cabra era gago (e ainda é!) e por isso temiam que ele tropeçasse em sua primeira fala. Certamente, seria o fim de seus intentos, pois o exigente eleitorado não se convenceria e nem acreditaria em suas propostas e promessas. Daí, o seu chefe e mentor político decidiu levá-lo a um estúdio de áudio e gravar a sua fala em CD, com a devida produção e ajustes tecnológicos para obter uma fluente expressão verbal. 

Assim sendo, no comício, na hora agá, a banda fez um barulho ensurdecedor e quando os fogos pipocaram, anunciaram o candidato, diminuíram a luz do palanque e ligaram o aparelho de CD Player nas alturas. Aí, mudo, o candidato sincronizou os movimentos labiais conforme o seu discurso pré-gravado, mandou brasa e o povo foi à loucura! Sucesso total! 

É fato que o recurso deu certo porque a falação foi mais ligeira do que coice de bacorinho e aconteceu apenas uma vez. Ninguém desconfiou da marmota e o sucedido entrou para história dos que participaram daquela astúcia política. 

Ah, ia me esquecendo, os candidatos foram eleitos! 

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