Opinião

Besouro Verde – Totonho Laprovítera

A Sílvio Frota.

“Se meu fusca falasse…” (Anônimo do século XX)

De primeiro, era bastante comum em Fortaleza as pessoas saírem de casa unicamente para passear de carro. Dar uma volta na Beira Mar, ir ao Centro para espiar as vitrines das lojas ou apenas ver o movimento das ruas, eram motivos de sobra para se zanzar pela Cidade. Com um bom repertório musical troando no toca-fitas, o passeio ainda ficava mais interessante e convidativo para uma boa companhia.

Era uma época em que os carros vinham de fábrica com poucos opcionais, então a rapaziada os guaribavam com acessórios que personalizavam cada um deles. Descaracterizados de suas originalidades, a ideia era chamar atenção por onde passassem.

Na década de 70, lembro do talentoso Milton Nunes adesivando automóveis com desenhos exclusivos, na loja EME Speed Shop, do Maninho Brígido. Também havia a Karkomvagen, dos cunhados  Juarez Mendes e Sinval Sampaio, antiga oficina e funilaria, especializada em Karmann-Ghia. Como tinha gente apaixonada por automóveis…

Naquele tempo, a grande maioria da mocidade fortalezense da Aldeota e do Meireles se encontrava na Paróquia Nossa Senhora da Paz, aos domingos, no horário da missa das sete, mas, do lado de fora. De lá, a programação prosseguia no roteiro de ir ao cinema (no São Luiz, Diogo, Fortaleza, Art, Nova Metrópole, Ventura, Gazeta etc.), para depois merendar em alguma lanchonete da moda (na Bembom ou Top’s, por exemplo).

A pé ou de carro, pra cima e pra baixo, era um desfile danado na rua Visconde de Mauá. Lembro das turmas se formando em torno dos assuntos de encerramento da semana. Bem em frente ao templo religioso, as casas tinham muros baixos que se transformavam em uma verdadeira arquibancada.

Pois bem. O meu primeiro carro foi um simpático Volkswagen 1200, Verde Amazonas, ano 1962. Apelidado de “Besouro Verde” pelo meu irmão Gera, o veículo era um verdadeiro herói pelas ruas e avenidas descalças ou de pedra tosca da então adolescente Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.

Nele, em meados dos anos 70, eu ia ao colégio e passeava pela cidade com a maior tranquilidade do mundo. Naquela época, o único perigo que me ameaçava era o de levar carreira de algum Tetéu (viatura do Detran), em busca dos imberbes sem carteira de motorista. No entanto, creiam, eu nunca cheguei a puxar 100 Km/h nele.

Agora, ô fusca amigo! Bastava um cheirinho de gasolina para andar léguas e só dava prego se fosse de pneu. Invocado que só, de noite, quando eu o acelerava seus faróis aumentavam a intensidade da luz. Desse mesmo jeito a fanhosa buzina fazia-se sonora.

Apegado a mim que só, o Besouro Verde falava meu nome. De manhã, quando eu virava a chave da ignição, bem fraquinho ele me chamava: – “Toim… Toim…”

E tem mais, se soubesse andar só, certamente à noite ele iria diretinho ao Patinação Clube ou à então Praia do Futuro “Familiar”. Pense em um carro farrista e presepeiro!

Saudade do Besouro Verde…

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