Opinião

Arte e loucura – Totonho Laprovitera

“Antes arte do que tarde.” (Bené Fonteles)

Arthur Bispo do Rosário

Espiando e vendo o tempo meter o pé na carreira – ô bicho avexado! – eu matuto sobre a minha gratidão à Arte. Não apenas por ela me apresentar significados e valores da vida, mas por ela se doar como Mãe de todos os viventes. 

Reflitamos. Cada um de nós tem, pelo menos, uma história para contar sobre a grandiosa alma materna da Arte, acolhedora de excluídos, desiludidos e desvalidos. Pois é, a Arte educa, informa e entretém. Instiga a percepção, a sensibilidade, a cognição, a expressão e a criatividade. Além disso, ela cumpre função social, ao reinserir pessoas na sociedade e de larguear oportunidades aos marginalizados. 

Aí eu escutei de um cidadão comum, que hoje em dia tem mais artistas do que arte. Será? 

Ao visitar a exposição “Bispo do Rosario – Eu vim: aparição, impregnação e impacto”, em São Paulo, observei as relações entre arte e loucura pelo fecho do delírio como estrutura de novas realidades. 

Para quem não sabe, considerado gênio por uns e louco por outros, o reconhecido artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) chegou a ser pregado em discussões a propósito do pensamento eugênico – que busca a melhoria da espécie humana fundamentada em características hereditárias avaliadas “desejáveis” – o preconceito e os limites entre a insanidade e a arte no Brasil. 

A história de Bispo do Rosario aconteceu na Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro destinada a abrigar os considerados anormais ou indesejáveis doentes psiquiátricos, alcoólicos etc. 

Pois bem. Arte e loucura se cruzam há muito tempo. De modo recente, desde quando a produção plástica de pacientes de instituições psiquiátricas, associada à vanguarda, atraía o interesse de críticos e artistas. Do Renascimento para cá, a figura do “louco” tem se ligado com a questão da criação, misturando melancolia e arte, dando a imagem do gênio louco no Romantismo, até chegar na confirmação da figura do criador atormentado, tal Van Gogh. Assim, genialidade e loucura costumam atribuir aos artistas a impressão de uma personalidade atípica à consciência pública. 

Agora, segundo o escritor e crítico de arte Ferreira Gullar, “a loucura não faz o indivíduo virar artista. O artista é que, por acaso, pode ser louco”. Mentalmente saudável ou não, de acordo com a história, o artista é visto como alguém fora da caixa, pois a arte é o caminho para questionar as coisas estabelecidas. 

Como dizia Raulzito, “a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”. É, e ainda chamam de louco quem produz a sua própria felicidade…  

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