Opinião

Aprendendo no Icó – Totonho Laprovitera

A Napoleão Ferreira.

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” (Cora Coralina)

Pra começo de conversa, eu tenho muito orgulho de ter sido aluno do professor José Liberal de Castro, umas das mais significativas personalidades da arquitetura brasileira, a partir do Ceará.

Pois bem, no primeiro semestre de 1981, eu integrei a turma de estudantes do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC – Universidade Federal do Ceará, organizada pelo professor Liberal, para realizar levantamentos arquitetônicos de uns casarões na cidade do Icó, em convênio com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Na época, lembro, quase que eu perdia essa valiosa oportunidade, em virtude de ter acabado de convalescer de uma hepatite. Até hoje, lembro-me da importância dessa experiência para minha formação profissional.

Em Icó trabalhávamos o dia inteiro no centro histórico da cidade e à noite nos recolhíamos no Hotel do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, na vizinha Orós. Era onde, em equipe, passávamos a limpo os rascunhos de desenhos e organizávamos as anotações, somando as habilidades e disposição de cada um de nós. Apesar do intenso ritmo, depois de cada puxado dia de trabalho, ainda nos sobrava tempo para relaxarmos um pouco: em Icó, por exemplo, no Katakum Bar, vizinho ao cemitério; em Orós, no hotel mesmo, onde armávamos redes nos poéticos alpendres e nos pegávamos a conversar à luz de um infindo estrelado céu.

A partir dos levantamentos, pautados pelo professor Liberal, colhíamos diversos conhecimentos, sobretudo os de história da arquitetura brasileira. De quebra, praticávamos a arte da arquitetura das benquistas amizades que até hoje perduram.

Naquela empreitada, formavam a turma comigo os colegas: Airton Barbosa; Albertina Mirtes; Ana Maria  Jereissati; Artur Novais; Bossa Cavalcante; Clélia Carvalho; Dina Pontes; Eliana Braga; Inês Câmara; Leônidas Silva; Martha Cidrack; Paulo Eduardo Nóbrega; Rigoberto Oliveira; Rosalinda Pinheiro; Rosany Albuquerque; Solange Schramm; e Thelma Melo. Acompanhando o mestre Liberal, o professor Pedro Eymard e Chico Veloso, arquiteto do IPHAN.

Interessante era que, naquela ocasião, o experiente professor Liberal nos ensinava com tanto entusiasmo, chega parecia ser um jovem educando, cheio de vontade de aprender. Quer dizer, desse jeito aprendíamos duas vezes cada lição.

Pois é, sempre atento à ensinos e exemplos, com essa preciosa experiência acadêmica me encontrei no inolvidável princípio de que assim como as pessoas, os prédios necessitam de alma para viver!

(Do livro “Arquitetura, memória, registro: levantamentos gráficos de arquitetura no Ceará e no Maranhão”, do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Ceará, 2019.)

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