Opinião

Aparências – Totonho Laprovitera

Quem me conhece sabe do quanto gosto de escutar rádio. Gosto adquirido na infância, quando eu já dava o maior dez aos programas musicais, esportivos, e as radionovelas – “Jerônimo, Herói do Sertão”, fazia o maior sucesso. 

Pois bem. Recentemente, ao ouvir no rádio Márcio Greyck cantar “Aparências”, dei-me conta do significado profundo desse substantivo feminino. Isso me fez recordar quantas vezes ouvi o conselho “é bom desconfiar das aparências” ou a advertência “as aparências enganam”. Essas expressões sugerem a prudência ante ao revelado à primeira vista. Instiga um pé-atrás diante de eventos contraditórios às primeiras impressões.

Muitas vezes, a aparência é usada como capa para práticas enganosas e ilusórias. Na filosofia, ela é o que percebemos, por oposição à realidade em si, a nos escapulir. 

Nos tempos atuais, a tecnologia se engoda na criação de códigos validados de aparência, consumindo os sentidos do sujeito social na força de sua imagem virtual. 

A busca pela preservação, apresentada como resposta à teimosa crise mundial, também se estende ao universo da representação da própria imagem, a se expandir pelas vias digitais dos encontros virtuais. Refletir sobre essa dinâmica, centrada na aparência, implica discutir a situação histórica da humanidade diante da ameaça de sua ruína. 

Na atual cultura centrada nas aparências, revelar posses ou identidade por tudo quanto é canto, escancara a vaidade extrema a níveis sem precedentes. O medo de perder o visível aos olhos alheios torna-se inadmissível, como se o status já fizesse parte essencial do núcleo da definição da qualificação da pessoa. 

A eterna questão: ser autêntico ou aparentar ser algo, talvez, não condizente com a realidade? Volta e meia, vejo pessoas investindo de maneira bamburrada em coisas caras para causar impressão nos outros. No entanto, essa escolha nem sempre está alinhada com o capim recebido. 

Pois é, não é à toa que não me abismei quando ouvi um pobre endinheirado dizer: – “Me chame de filho ‘daquela’, mas não me chame de liso, não, que eu saio de giro!”  

Falando nisso, lembro quando fui apresentado a um presunçoso sujeito, fuleiragem recém-chegado a morar em Fortaleza. Antes de estender a mão, foi logo perguntando quanto eu ganhava. Aí, ironizei: – Pergunta difícil, cidadão, pois não sei quanto ganho, nem quanto gasto. 

Por fim, mais do que ter, é ser. Agora, juntando as duas coisas, deve ser bom demais! E tem mais, tenho a sorte de ter amigos ricos, sabedores da importância do dinheiro como meio, não como fim. Quer dizer, vivem os verdadeiros valores da vida.

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