Opinião

Anna Uddenberg e o domínio dos objetos – Aldonso Palácio

É de origem sueca a artista Anna Uddenberg (nascida em 1982), que vive e trabalha em Berlim. Seu trabalho vem ganhando notoriedade desde seu destaque na participação na Bienal de Berlim de 2016 e sua posterior representação pela galeria Kraupa-Tuskany Zeidler, suas constantes aparições internacionais nas feiras Art Basel e suas colaborações com a marca Balenciaga.

Uddenberg ocupa agora a histórica rotunda do Pavilhão Schinkel, no centro monumental de Berlim. Lá ela dispôs uma série de esculturas ergonômicas, de construções complexas, semi-industriais, feitas para serem ativadas por performers que acomodam seus corpos aos objetos. O ato e as posições que ocorrem entre as esculturas e os performers são baseadas em práticas masoquistas de humilhação, e oscilam entre o “usar” e o “ser usado”. A mostra chamada Fake-Estate (Falsa Propriedade), provoca momentos de colisão sobre a noção de propriedade, e estabelece uma negociação das fronteiras entre livre arbítrio e controle. A quem pertencem nossos corpos, nossas mentes, nossos dados? 

Objetos nos subjugam. Eles moldam nosso comportamento e a nossa forma de ver o mundo, quanto mais os usamos. Coisas não apenas nos pertencem, mas também estabelecem um pacto mútuo de propriedade e poder sobre nós. Nossa relação com o celular e a informação que lá consumimos é talvez o maior exemplo disso. Me ocorreu a cena que correu a internet na época das eleições do empresário que lambe o cano da espingarda ao evocar o nome do candidato. Nossa relação com os objetos e com os algoritmos também tem a ver com uma certa entrega irracional, e testemunham um desejo de retorno a uma submissividade infantil. 

Erramos 

Na coluna da semana passada, a foto das esculturas vermelhas foi publicada com a atribuição errada. Trata-se de obra do artista Jonathan de Sousa, “Haters”, 2022.

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