Opinião

Ana Cristina Mendes em casa em Nuremberg – Aldonso Palácio

Ana Cristina Mendes, Mar-Tecido, 2015. Vista da exposição na igreja de Santa Marta, 2023, Nuremberg, Alemanha. © Aldonso Palácio

Ana Cristina Mendes é artista visual natural de Fortaleza, mestra em Artes (UFC-CE), graduada em Artes Plásticas (IFCE-CE), Design (FIT Fashion Institute of Technology, Nova York, EUA) e extensão em Dança e Pensamento (Escola de dança da Vila das Artes, UFC). Este ano ela expôs e co-organizou as ações da Ponte Cultura, associação baseada em Nuremberg que produz um intercâmbio de artes plásticas entre a Alemanha e o Brasil. A artista já colabora com o projeto há mais de 10 anos.

Na igreja de Santa Marta em Nuremberg, o Mar-Tecido (2015) está mais uma vez sublimemente exposto ao lado do altar, dividindo a passagem entre os bancos e uma pequena porta da sacristia. Sua presença é incontornável, é preciso atenção para não tropeçar. A obra é resultante da homônima performance onde a artista veste o grande manto e o leva à praia para um banho de água salgada e areia. Mais do que uma experiência estética, a obra emana uma certa aura vital, principalmente naqueles iniciados em sua caminhada, tomando assim contornos de sagrado. É como rever um velho amigo, se sentir em casa num lugar que há anos não visitávamos. Eu fui lá e o cheirei, ele ainda tem perfume de maresia.

A prática de Ana Cristina Mendes encontra-se na performance, na vídeo arte, na pintura e na escultura. Seus objetos são quase sempre de origem têxtil, talvez resultante de quem viveu uma vida rodeada de tecidos e máquinas de costura no ambiente fabril de uma confecção. Suas indagações voltam-se para um olhar interior, que frequentemente passa também pelo olhar do outro em colaborações. O tecido é metáfora de pele, de paisagem, de seu próprio corpo e intenções, uma membrana permeável que esconde e transparece simultaneamente. Os tecidos de Ana Cristina Mendes têm vontade de transformação, de deslocamento, de ser uníssono com a paisagem e a natureza, de romper fronteiras físicas e psicológicas. Eles ganham vida própria, carimbam o passaporte, são assimilados por novos corpos, novas arquiteturas, novos chãos e contágios a cada episódio de itinerância. 

 

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