Opinião

Amor febril – Totonho Laprovitera

“O amor é uma pipoca torrada no caco da fatalidade.” (Tia Margarida)

Certa vez ouvi falar que “o amor é um estado febril e passageiro”. Entretanto, sem pretender discutir sobre o mérito da afirmativa, é incrível até onde alguém pode ir pelo desejo de conquistar alguma pessoa. 

Sobre amor, há o febril, que se estabelece pela possessão da paixão. Quando a febre emocional acontece, é porque o cérebro reage ao estresse e faz a temperatura do corpo se elevar, causando vermelhidão no rosto e aumento dos batimentos cardíacos. Esse amor é patológico e dizem que pega mais nos que possuem relacionamento instável. 

Aconteceu em meados dos anos 1990. “Seu” Polimário estava trabalhando em uma pequena cidade do interior, onde a sua permanência cada vez mais se estendia fora de casa. Dona Ilmar, sua santa e dedicada esposa, achava a coisa mais natural do mundo o esforço da ausência do marido em seu abençoado lar, pelo bendito sustento da família. Mas como dizem os analistas de plantão, “o que lasca um cidadão são as denúncias”. 

Pois bem. Não tardou, uma anônima ligação telefônica dedurou “seu” Polimário à dona Ilmar, acusando-o como violador e transgressor da regra de fidelidade conjugal. Ainda mais, que ele estava de namoro firme com Nayara Kércia, uma beldade do lugar, portanto, ferindo o princípio de não manter relações com outrem fora do sagrado matrimônio. 

Indignada com a situação, inteiramente decidida, dona Ilmar tomou suas providências: foi bater na cidadezinha que se fazia de paraíso para o casal Polí e Nayá. Fula da vida, para tomar satisfação e resolver o caso, seguiu direto à casa da moça e ao chegar com toda valentia do mundo, do portão, bateu palmas. 

Ô de casa! 

Já vai! Tô indo!

Nayara Kércia está?

Não tá, não. Tá na escola. 

A senhora é o que dela?

Mãe, por que? 

Deixe-me me apresentar. 

Pois não… 

Sou Ilmar, esposa de Polimário! 

Ah, de “seu” Polí!

A senhora sabe que a sua filha está namorando com o meu marido? 

Sei, sim… 

E o que a senhora tem a dizer sobre isso?!

Ah, que faz muito gosto à nossa família! 

Aí, diante de tal imprevisto, dona Ilmar amofinou e, reservadamente, foi embora, pelo lado da sombra e cantando Amor Febril! 

Em tempo: cantar amor febril significa viver um momento sofrido, mais exatamente, cansativo. Também quer dizer “ir sozinho, a pé”. 

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