Opinião

Amante latino – Totonho Laprovitera

“Basta um instante e você tem amor bastante.” (Paulo Leminski)

Segundo etimologistas de plantão, a palavra “fuleiro” advém do espanhol “fullero” – enganador – surgida por influência de fabricante de foles – “fuelles”. Em cearês, além de ordinário e ruim, “fuleiro” também é a pessoa irreverente e brincalhona. Assim, diz-se: – “Ô cabra fuleiro, só falta matar a gente de se abrir!”

No que conto a seguir, o “fuleiro” em questão é uma figura gaiata e de bem com a vida. Boa-praça que só, o alencarino Beto Fuleiro é um extraordinário papo. Educado, com seu miúdo sotaque de amante latino, apresenta-se como “romántico con estilo, un humilde y caliente siervo del amor”.

No glorioso Patinação Clube, ele fazia o maior sucesso! Zanzando pra cima e pra baixo, em passos ritmados, calçados por pisantes “Cavalo de Aço”, balançava os queixos como se chiclete mascasse. Trajando blusa cacharrel psicodélica, o alinhado Beto carregava a enchaveirada chave do guarda-roupa no cós da raiada calça boca de sino, fazendo de conta que era a de um automóvel. Assim, atraía as sapecas Cinquentinha, De Menor, Mil, Milonga, Muda e Toinha, dentre tantas.

Versado e palavroso sedutor, mirava as disponíveis balzaquianas como alvo favorito em suas caçadas pelos saguões e bares de diversos hotéis da cidade.

Certa vez, Beto encostou em uma dessas elegantes e encantadoras damas:

Faz tempo que não vejo o Beto. A última vez que nos topamos foi no finado restaurante Tocantins, saudoso reduto dos boêmio que singram as madrugadas. Não era à toa que o Fuleiro cantarolava em espanhol, arremedando com todos os trejeitos, Sidney Magal: – “Soy como já sabes amante latino, me gustan las mujeres de la noche y el vi-inó…”

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