Opinião

A escultura – Totonho Laprovitera

A Tasso Jereissati

“Mais importante do que a obra de arte é o que ela vai gerar.” (Joan Miró)

A história de uma obra de arte acrescenta valor material e imaterial à ela. Algumas até se tornam legítimos ícones culturais e chegam a qualificação de famosas na arte. Reconhecidas, muitas contam a história do mundo.

Por função artística, uma obra vai além da representação de seu significado e beleza. Costuma transcender o seu principal objetivo e pode até virar uma utilidade prática. O conceito de uma obra de arte está atado ao seu contexto histórico, cultural e do próprio significado de arte. Sem pudores, é um produto diferenciado que transmite a ideia em sensível expressão. Trata-se da criação que ilustra e ajuíza o desígnio de um artista.

Pois bem. Para tudo existe um dono, é certo. E foi assim que consegui intermediar entre amigos, à pedido do Alexandre Jereissati, o investimento de uma peça artística de posse do seu tio Tadeu para Gaubi Vaz.

Em Fortaleza, Tadeu queria se desfazer da bela escultura de autoria de Bruno Giorgi – um dos mais importantes escultores brasileiros e autor das obras Os Guerreiros (Os Candangos), Meteoro e Monumento à Cultura, espalhadas por Brasília.

Gaubi estava perto de inaugurar sua nova casa, em Marechal Deodoro, Alagoas. Na semana em que eu havia fotografado a tal escultura, ele me telefonou de uma galeria do Rio de Janeiro, perguntando sobre o que eu achava de umas obras de arte que o haviam oferecido. Mandou as imagens por telefone, eu as vi, considerei e gostei. Daí, falei sobre a de Giorgi. Interessado, pediu-me as imagens e as enviei seguidamente, observando a necessidade de restauração. Então, Gaubi perguntou o valor – eu informei – pesquisou e pediu preferência de compra.

Apresentada a oportunidade de negócio ao Tadeu, as partes se entenderam e a transação fechada. Quando fomos buscar a escultura na casa dos Jereissati, no momento em que ela estava sendo desmontada, reparei a emoção marejar nos olhos de Tadeu. Ao terminar a embalagem, ele se dirigiu à Gleick, mulher de Gaubi, e disse: – “Senhora, essa escultura foi instalada no jardim dessa casa – de arquitetura moderna, por sinal – em 1959. Em mais de 50 anos, ela presenciou muitos momentos felizes de minha família. Desejo que ela presencie da sua.”

Pois é, através da arte eu fiz amizade com o saudoso Tadeu que, mesmo recente, fazia-se parecer bem antiga. Era um homem bom.

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