Opinião

2022: uma eleição à direita?

Emanuel Freitas é professor de teoria política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Por
Emanuel Freitas

O grande fato político da semana que se encerra hoje talvez tenha sido a desfiliação de Geraldo Alckmin do PSDB, depois de 33 anos no partido. Menos pelo fato em si e mais pelos desdobramentos deste. É que uma de suas possibilidades, a mais cotada segundo pessoas próximas ao ex-tucano, é compor como vice-presidente na chapa de Lula. Isso após 15 anos daquela acirrada disputa presidencial em 2006.

Com tal movimento, juntando-se às reiteradas declarações de Lula acerca da possibilidade, parece-nos um tanto quanto certo que a eleição de 2022 será decidida pelo eleitor de direita. O movimento em torno da composição com Geraldo, da parte de Lula, sugere tal análise. Não serão os eleitores de esquerda, que já parecem estar fechados com Lula, que decidirão o pleito, mas os do espectro oposto. Ciro Gomes não chegar a ameaçar a liderança isolada do petista, seja em termos do eleitorado em geral, seja no que diz respeito aos eleitores de esquerda.

A pesquisa divulgada pelo IPEC também parece sugerir isso: enquanto Lula tem a dianteira das intenções de votos (48%), os outros candidatos, com exceção de Ciro (que flerta com uma espécie de centro-direita em que cabe o DEM de ACM Neto, um bolsonarista ligth), todos identificados (ou identificáveis) como de direita é que apresentam intenções de voto; senão, vejamos: Bolsonaro (21%), Moro (6%), André Janones (2%), João Dória (2%), Daciolo (1%) e Tebet (1%). Temos aí 33% do eleitorado identificado com candidatos cuja plataforma política deverá ser de direita.

O que isso nos diz? Em primeiro lugar, que Lula, animal político que é, parece ter observado bem o movimento do espírito do tempo e se aproximado de alguém com o perfil da direita, não mais com alguém do setor produtivo, como o era José Alencar. Em segundo lugar, em indo para o segundo turno, poderá ter contra si uma “frente ampla” de direita, coisa que a esquerda (ou os democratas) até hoje não conseguiu efetivar. Por fim, a gramática política da eleição, embora permeada pela situação econômica do país, deverá ser contaminada pela agenda conservadora, exigindo compromissos os mais diversos de cada um dos candidatos, no intuito de rifar Lula.

Caso tal cenário se efetive, esperemos um Congresso Nacional ainda mais retrógrado do que esse que aí está.
Emanuel Freitas é professor de teoria política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

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