Economia

Reunião no escritório e buscar filhos na escola: flexibilidade e conciliação no pós-pandemia

Cerca de 2/3 dos trabalhadores defendem flexibilidade quanto ao local de trabalho / Marcelo Camargo/Agência Brasil

O relaxamento das restrições e o avanço da vacinação contra a Covid-19 vão lentamente abrindo caminho para a volta aos escritórios.

Ainda que o home office tenha sido um privilégio de uma minoria -somente 11% dos ocupados brasileiros tiveram esse direito em 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)-, foram 8,1 milhões de trabalhadores que tiveram de improvisar estações de trabalho e conciliar rotinas profissionais e pessoais enquanto seguiam suas jornadas a partir de suas casas.

Agora, com o pós-pandemia no horizonte, termos como flexibilidade e trabalho híbrido ganham espaço -e quem não quiser empregados descontentes terá de levar isso em consideração.

Segundo pesquisa da Ipsos sobre a volta aos escritórios, 66% dos trabalhadores acham que as empresas terão de ser flexíveis quanto a exigir a presença no local de trabalho, e 63% querem poder decidir quando ir ao não.

As preferências dos trabalhadores quanto a voltar ou não aos escritórios, porém, aparecem bem divididas. Quatro em dez disseram que preferem trabalhar totalmente fora de casa assim que a pandemia terminar. Na outra ponta, 31% querem trabalhar totalmente em casa.

“O dado mais óbvio da pesquisa é o de que a flexibilidade não tem volta”, diz o presidente da Ipsos no Brasil, Marcos Calliari. “O que é inesperado é que o Brasil apresenta números muitos parecidos nos extremos, entre os que absolutamente querem voltar e os que não querem”.

Para Calliari, os resultados dão uma dimensão do quão mais complexo ficará a gestão de pessoal.

Quando a Ipsos perguntou quantos dias os trabalhadores gostariam de cumprir jornada em casa, 30% optaram por todos os dias da semana, tendo em conta uma semana de cinco dias.

Os demais se dividiram entre preferir um (10%), dois (15%), três (18%) e quatro (7%) dias de home office ao fim das restrições.

“Vai ser complexo lidar com isso e entender a posição de cada funcionário. O grande achado não é mais se vai ser home office total ou parcial. As empresas vão precisar ter um modelo que respeite as peculiaridades individuais”, afirma.

Na avaliação de Calliari, fatores como a distância entre casa e local de trabalho e ter ou não filhos influenciam na posição do trabalhador quanto ao retorno à rotina no escritório. “Já não é somente sobre trabalhar em casa. [Para o futuro], é fazer uma reunião no escritório, mas poder buscar os filhos na escola.”

A pesquisa da Ipsos foi realizada com 12.445 trabalhadores de 16 a 74 anos em 29 países.

Entre os brasileiros, 65% disseram que se sentem mais produtivos com um cronograma flexível. Nas empresas em que já se discute um formato para o pós-pandemia, Calliari avalia que os modelos de retorno são, na prática, rigorosos. “São dois dias em casa, mas o que vemos é que as expectativas são mais complexas.”

O trabalho remoto no Brasil em 2020 foi bastante heterogêneo. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a maioria das pessoas ocupadas e que ficaram trabalhando em casa no ano passado eram mulheres brancas e com nível superior completo.

O maior contingente de pessoas em home office estava em São Paulo. Eram 2,9 milhões em 2020, ou 35,5% do total. No outro extremo, apenas 16 mil pessoas estavam em trabalho remoto no Amapá, 14 mil no Acre e 13 mil em Roraima.

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