Economia

O desafio do Brasil para evitar novo pico dos preços neste ano

Após estourar com folga o teto da meta de inflação em 2021, País continua enfrentando dificuldades para segurar o avanço dos preços em 2022, que não deveria passar de 5%. No entanto, as últimas projeções do mercado financeiro para o IPCA já ultrapassam esse índice

No mês passado, a cesta básica ficou 4,89% mais cara em Fortaleza, com o preço médio atingindo R$ 607,35 (Foto: Edimar Soares)

Crisley Cavalcante
economia@ootimista.com.br

O consumidor brasileiro continua tendo intensificada a sua perda de poder de consumo. Pela quarta vez consecutiva, o mercado financeiro aumentou a previsão de inflação para 2022 no País, que já supera a expectativa para o teto da meta de 5% estabelecida pelo Banco Central. A última projeção do Boletim Focus, divulgada no último dia 7, pelo Banco Central, estipulou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve terminar 2022 em 5,44%, maior que a anterior (5,38%). Há cerca de um mês, a projeção era 5,03%. Nova estimativa será divulgada hoje.

Em Fortaleza, a situação segue igualmente difícil para o consumidor. Puxada pelo aumento dos preços dos bens de consumo e vestuário, a inflação na Capital é a 6ª maior do Brasil, com avanço de 0,73% em janeiro ante dezembro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nesse contexto, o valor dos alimentos vem pesando sobre o bolso dos fortalezenses. No mês passado, a cesta básica ficou 4,89% mais cara, com o preço médio atingindo R$ 607,35, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“Se olharmos para trás, veremos que o aumento da inflação no Brasil, nos últimos meses, foi em razão de uma série de fatores, como preço do petróleo, pandemia de covid-19, variação cambial, entre outros, o que nos leva a um cenário de maior incerteza para a nossa economia. O combate à inflação é fundamental e deve ser uma prioridade porque por si só é concentradora de renda, provoca desequilíbrio no mercado e isso faz com que tenhamos impactos negativos pelo desequilíbrio que causa na atividade econômica”, diz o professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e membro do Conselheiro Federal de Economia (Cofecon), Lauro Chaves.

Juros

Para ele, o Banco Central precisa tomar medidas mais pontuais que não seja apenas aumentar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,75%, para conter a inflação. “Como trabalhamos com regime de metas de inflação, precisamos que volte para o centro da meta. Hoje temos pouca demanda e a oferta não atende, estamos tendo componentes de inflação estrutural e de custos. A política de aumentar os juros tem um efeito muito pequeno. Precisamos de outros mecanismos, como reestruturar as cadeias produtivas, combater os fenômenos que estão causando desestruturação logística e aumento de custos para o setor produtivo, por exemplo”, reforça o economista.

Efeito colateral

Na avaliação da presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, outras medidas devem ser adotadas. “As causas da inflação não são de demanda, mas de custos. O aumento da taxa de juros foi muito acima da dose, gerando efeito colateral muito ruim para a economia do Brasil, pois desacelera o processo de recuperação e gera recessão. O fato de o Banco Central ter apenas essa política monetária é preocupante. Precisamos de outras medidas de controle fiscal e tributário na perspectiva de longo prazo, e não apenas subir juros, pois é um caminho muito doloroso”, afirma.

País tem 3ª maior inflação entre principais economias

A inflação brasileira em 2021 deve ser a terceira mais alta entre as principais economias do mundo, ficando apenas atrás da Argentina (50,9%) e da Turquia (36,08%), segundo levantamento da economista-chefe Andrea Damico, da Armor Capital, com os dados da plataforma Ceic Data.

O IPCA ficou em dois dígitos em 2021, com alta de 10,06%, o maior aumento desde 2015 (10,67%), e superou em muito o teto da meta de inflação (5,25%). Alguns países ainda não divulgaram o dado fechado de 2021.

Quanto às perspectivas para os preços no País neste ano, o economista e membro do Corecon-CE, Fran Bezerra, acredita que o teto da meta de inflação será ultrapassado novamente. “Está claro que o horizonte para a política monetária não é mais 2022, e sim 2023. Há, ainda, a desorganização das cadeias produtivas globais e é por isso que há falta de peças para a produção”, diz.

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