Analistas apontam câmbio, Bolsa de Valores, confiança dos empresários e mercado de trabalho como os indicadores mais depreciados pela atual crise. Conflitos entre os Poderes traçam um cenário conturbado para 2022, ano de eleições gerais
Giuliano Villa Nova
economia@ootimista.com.br
Num momento de retomada da economia, após o arrefecimento dos índices da covid-19, tudo o que o Brasil não precisava era de uma crise política. No entanto, o clima pesado entre os três Poderes, as dificuldades de se superar as adversidades macroeconômicas e a desconfiança dos investidores nacionais e internacionais são fatores que podem atrapalhar o crescimento dos segmentos do mercado – e as repercussões negativas podem ser as mais variadas, desde oscilações no câmbio, fuga de capital estrangeiro e queda na confiança de empresários e consumidores. Na avaliação de especialistas, os próximos meses serão desafiadores para a economia nacional, inclusive vislumbrando 2022, para quando estão previstas eleições gerais no País.
“Os riscos da crise política são os de gerar ainda mais incerteza, mais instabilidade sobre o processo de retomada da atividade econômica. Isso, ocorrendo, influencia a perspectiva de retorno dos investimentos no Brasil Ou seja, o que as empresas vão aumentar ou diminuir de investimentos, em razão das oscilações que podem ocorrer na economia para os próximos meses”, observa o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
O preço do dólar e os índices da Bolsa de Valores são os mais sensíveis às instabilidades governamentais. No dia seguinte às manifestações do dia 7 de Setembro, a moeda norte-americana subiu fortemente em 2,93% (R$ 5,3276) e a Bolsa caiu em 3,78%. No dia de ontem, tanto o dólar (-0,41%, a R$ 5,3043) quanto a Bolsa (-0,63%) caíram.
“Essas oscilações, com o dólar em alta e a Bolsa em queda, são consequências diretas da crise política, porque a gente está vendo, em tempo real, o que os investidores estão sentindo, entendendo e reagindo em relação aos acontecimentos do momento no Brasil. Diante do clima de incerteza, os investidores estrangeiros começam a retirar capital do País, pois, até mesmo no âmbito jurídico, eles ficam sem garantias do que pode acontecer futuramente”, explica Arthur Studart, sócio da Aveiro Consultoria.
Desconfiança
Para os empresários, as instabilidades políticas causam desconfiança para aportes em seus negócios, como a contratação de mão de obra, ampliações de instalações e aumento de produção. “Isso pode gerar um retardo dos investimentos no setor produtivo, eles buscam avaliar os próximos movimentos e, por conta disso, deixam de investir imediatamente, o que causa atraso na retomada da atividade econômica. Ou seja, causa influência sobre produtividade das empresas, lucratividade e mercado de trabalho. Se houver um nível de atividade econômica menor do que se esperava, também haverá uma menor absorção da força de trabalho”, afirma Ricardo Coimbra.
“Não saber para que lado o governo vai direcionar seus objetivos causa desconfiança para as empresas, e isso reflete no mercado de trabalho: quem pensava em contratar e não sabe para onde o governo vai mirar, com certeza, deverá segurar o investimento que faria, principalmente em funcionários e maquinário, como na indústria e no setor de serviços”, aponta Arthur Studart.
PIB
Para este ano, havia a expectativa de parte do mercado de uma forte recuperação da atividade econômica, com a perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 5%, e acima disso para o ano que vem. No entanto, as instabilidades a partir de Brasília podem minar essas previsões. “Inicialmente, imaginava-se uma recuperação acima de 5% para 2021, já se projeta abaixo de 5%, e para 2022, os sinais são de um crescimento bem menor do que se previa. Parte do mercado já trabalha com a perspectiva de crescimento de apenas 1,5% para o próximo ano, em função dessas instabilidades e incertezas”, destaca Ricardo Coimbra.
“Antes de todo o contexto que estamos vivendo, existe um agravante, para 2022, que se chama eleições. Historicamente, os anos eleitorais são bem conturbados e estressantes no Brasil. Geralmente o dólar fica mais alto, por conta do grau de incerteza do que vem pela frente. Com essa crise de agora, cria-se um grau de incerteza ainda maior para os investidores. Isso é um agravante. Possivelmente teremos um ano conturbado, diante da grande polarização das eleições”, acrescenta Arthur Studart.
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