Aprender a lidar com o dinheiro desde criança pode ser o grande segredo para formar adultos saudáveis financeiramente, além de menos endividados. Nessa semana, o Brasil atingiu recordes de 79,3% de famílias com dívidas e 30% de inadimplentes, segundo a CNC
Crisley Cavalcante
economia@ootimista.com.br
Manter uma boa relação com o dinheiro é um grande desafio. Seja por não conseguir controlar os gastos, agindo pela compulsão em consumir, seja por não comprar o necessário por buscar economizar demais. Muita gente tem dificuldade de, por exemplo, colocar os gastos no papel, quanto ganha, quais são as dívidas… Por isso, aprender a lidar com o dinheiro desde criança pode ser o grande segredo para formar adultos saudáveis financeiramente, além de menos endividados.
Hoje, Dia da Criança, O Otimista também mostra como o bem-estar financeiro pode ajudar as pessoas, desde a infância, não só a economizar, mas também a usar o dinheiro para realizar seus sonhos e conquistar metas a longo prazo. Quando isso é aprendido ainda na escola, a chance de se tornar um adulto mais consciente é maior.
E foi pensando nisso que a advogada Luciana Marinho começou a ensinar as duas filhas, Clarissa e Valentina, de 5 e 8 anos, a ter educação financeira desde cedo. “Eu não fui educada financeiramente. Fui criada em um lar que tinha tudo, estudei em boas escolas, viajei… Quando minha mãe faleceu, eu tinha 17 anos e me vi obrigada a administrar todas as despesas da casa, pois fiquei responsável pelas minhas irmãs menores. A partir desse momento, sem ter ideia se seria mãe, já queria fazer diferente, que meus filhos soubessem a importância do dinheiro, como gastar e como poupar”, conta.
Tudo começou com uma boa conversa. Depois, os pais resolveram dar uma mesada para as meninas e, na medida em que o tempo passava, o valor ia aumentando. “Elas tinham um cofrinho, e tudo o que elas queriam de extra era com o dinheiro elas. A mais velha gosta muito do assunto, mas tem um pouco mais de dificuldade de poupar. Agora está fazendo curso para entender melhor. Notamos que, quando é para gastar o dinheiro dela, ela para e pensa. Criamos uma conta digital e ambas têm um cartão. A mais nova é mais controlada e sabe poupar mais, tem relacionamento mais saudável com as finanças”, explica Luciana.
Diálogo
Segundo ela, o segredo é abordar tudo de forma tranquila e verdadeira. “Quando chega um pedido com valor mais alto, explico para elas que deve ser planejada a compra, e assim vamos negociando e elas vão compreendendo que tudo tem um custo. Ensinamos o valor das coisas, dos bem duráveis, para que elas entendam que os objetos precisam durar mais. Sempre admirei muito a área de finanças e economia. Falamos com honestidade sobre o dinheiro e o que ele pode proporcionar para que não sejam surpreendidas. Elas acompanham isso nas nossas vidas e os investimentos que fazemos. Sempre temos essa conversa de forma lúcida”, acrescenta.
Diálogo
Na avaliação da diretora do instituto Brasileiro de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Darla Lopes, a educação financeira abraça componentes que vão muito além dos conceitos matemáticos.
“Os pais precisam orientar também, principalmente, sobre o comportamento e as decisões dos pequenos. Entre os benefícios de começar essa cultura desde a infância, algo que ainda não é forte no Brasil, está o desenvolvimento da organização, com planos de gastos e aprender a investir desde cedo, por exemplo”, explica.
Segundo ela, a melhor forma de introduzir essa temática é por meio do exemplo. “Alguns pais costumam erroneamente responder que não têm dinheiro quando a criança quer alguma coisa. O correto é dizer que há outras prioridades. A criança vai começar a entender que precisa tomar uma decisão frente a necessidades e desejos ilimitados, enquanto os recursos financeiros são limitados”, observa.
Darla Lopes indica que a solução é ter comportamento e decisões mais conscientes. “Para a criança e mais difícil, pois ela não tem a maturidade para entender que não pode ter tudo o que quer. Essa temática precisa ser introduzida de forma didática, leve e divertida, além de conversa e diálogo. A ideia é mostrar que o dinheiro é uma forma para realizar os sonhos, e isso certamente vai provocar mudanças de hábitos e costumes. Outra dica é ensinar a criança a poupar antes de gastar. A mesada é uma ferramenta importante para a criança aprender”, reforça.
Nessa semana, o Brasil atingiu recordes de 79,3% de famílias endividadas e 30% de inadimplentes, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
No Ceará, o Instituo Brasil Solidário (IBS) é uma entidade que está presente em 19 municípios levando educação financeiras diretamente para as escolas públicas (municipais e estaduais) de forma gratuita por meio do projeto “Jogos de Educação Financeira”. A iniciativa começou no Ceará, em 2017, e hoje está presente em escolas de todo o Brasil, já avançando para 280 municípios.
Participam do projeto os municípios de Aquiraz, Beberibe, Cascavel, Crateús, Camocim, Catunda, Eusébio, Fortaleza, Guaraciaba do Norte, Jijoca de Jericoacoara, Juazeiro do Norte, Monsenhor Tabosa, Nova Russas, Pindoretama, Sobral, Tamboril, Tianguá, Ubajara e São Gonçalo do Amarante.
As ações envolvem desde a entrega gratuita de todo o material pedagógico nas escolas até uma capacitação de 72 horas para os educadores realizada no modelo EaD pela equipe de formadores do IBS.
Proposta lúdica
Com uma proposta lúdica, dinâmica e criativa envolvendo um jogo de tabuleiro e outro de cartas, através dos Jogos Piquenique e Bons Negócios, a iniciativa tem trabalhado um modelo de aprendizagem ativa dentro das escolas públicas, onde alunos a partir de 6 anos de idade, já começam a participar das atividades.
“As dinâmicas desenhadas para as atividades com os Jogos Piquenique e Bons Negócios foram planejadas para serem aplicadas de forma interdisciplinar e levantando temas importantes como alimentação saudável, conta de luz, mobilidade urbana, reciclagem, que fazem parte do cotidiano desses alunos. O projeto teve seu primeiro passo em três municípios do Ceará e hoje já alcança 1 milhão de alunos. Esse aprendizado não tem idade, percebemos um impacto em toda a comunidade escolar, com professores de 50 anos mudando o comportamento após a formação”, explica o diretor presidente do IBS, Luis Salvatore.
Inscrição
Os municípios interessados em contar com o apoio do projeto podem entrar em contato por meio do Instagram oficial@vamosjogareaprender ou pelo Instituto Brasil Solidário, @brasilsolidario, onde está sendo disponibilizado o link para o formulário de inscrição (https://forms.office.com/r/74Y7MziKPN).
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