Economia

Crise hídrica no Brasil deve elevar preço de produtos e serviços para consumidor do Ceará

Baixo nível dos reservatórios no Centro-Oeste e Sudeste afeta todo o sistema nacional de distribuição. Custo mais alto da energia, pelo acionamento das termelétricas, pode elevar custos para o setor produtivo e pressionar ainda mais a inflação

Quase todos os reservatórios do País estão com níveis baixos de água (Foto: Agência Brasil)

Giuliano Villa Nova
economia@ootimista.com.br

O morador do Ceará que ouve falar em crise hídrica e baixos níveis nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste do País – localizados a milhares de quilômetros – pode achar que o problema não vai causar maiores transtornos no Nordeste. No entanto, a falta de água naqueles locais pode afetar a transmissão para todas as regiões do Brasil e provocar, entre outros impasses, o aumento das contas de energia elétrica e impactar nos preços de produtos e serviços.

“Em termos de abastecimento, já foi dito pelo Ministério de Minas e Energia (MME) que, para este ano, o risco (de apagão) está descartado, mas nós, consumidores, estamos sentindo no bolso as consequências da crise hídrica. Além do aumento da tarifa de energia elétrica, de quase 9% em abril, estamos na bandeira vermelha patamar 2, que adiciona mais cerca de 10% nos custos mensais com energia elétrica”, observa Joaquim Rolim, coordenador do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

Neste ano, o aumento das contas de energia elétrica no Ceará, autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi de 8,95%, em média, sendo 8,54% para consumidores de baixa tensão e 10,21% para os de alta tensão.

Reservatórios

Apesar da garantia do governo federal de que não haverá “apagões” no Brasil, os índices são preocupantes. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), nestes primeiros dias de agosto, quase todos os reservatórios de água País estão com níveis baixos. O panorama é mais crítico nas regiões Centro-Oeste/Sudeste, onde os níveis estão com apenas 25,9% da capacidade. O Sul opera com nível em 47,9%. No Nordeste, a situação é melhor: 54,7%. O melhor índice é registrado no Norte, com 79% da capacidade.

“Como a época de chuvas na região Centro-Sul somente deve se iniciar em torno do mês de outubro, caso não haja uma efetiva coordenação por parte do governo federal (ministérios e agências), regulação emergencial da produção, distribuição e consumo de energia elétrica, bem como do uso da água acumulada para outros finalidades, campanhas de engajamento da população no esforço de poupar energia, entre outras ações, o risco de desabastecimento ainda em 2021 ou em 2022 é real, inclusive para o Ceará”, alerta o economista Fran Bezerra, membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

Altos custos

De acordo com Joaquim Rolim, o cenário de elevação das contas de energia representa um aumento de custos significativo para o setor industrial. “Em resumo, todos os consumidores são afetados, direta ou indiretamente. Nestes momentos, quem mais consome energia fica mais prejudicado. Então, cada um precisa avaliar de que forma por reduzir o seu consumo, para reduzir seus custos, e ajudar a todos na superação deste momento”, detalha o coordenador do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

“Precisamos adotar medidas que evitem repetição deste problema, em um País com imensas capacidades de geração de energia, com muita diversidade, e cujo potencial de energias renováveis supera em centenas de vezes a sua demanda por energia elétrica, além de ser mais barata, limpa e renovável”, constata.

“Todos os setores que são eletrointensivos, a exemplo das indústrias de cimento, cobre, alumínio, química e petroquímica, ferroligas, aço, mineração, papel e celulose, por exemplo, são naturalmente mais afetados. São setores produtores de insumos para outras atividades, o que significa que elevações de seus custos tendem a se espraiar por todos os outros segmentos de empresas, chegando ao consumidor final”, reforça o economista Fran Bezerra.

Energias renováveis e ações educativas são alternativas para amenizar problema

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), a geração de eletricidade a partir de fontes renováveis ​​– energia hidrelétrica, eólica e solar fotovoltaica – deve crescer 8% em 2021 e mais de 6% em 2022 em todo o mundo. Ainda assim, essas fontes energéticas ​​só serão capazes de atender a cerca de metade do aumento projetado na demanda global de eletricidade nesses dois anos, que tende a der de 5% em 2021.

Nos últimos anos, tem aumentado de forma destacada a participação das fontes renováveis na geração de energia no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a matriz energética brasileira encerrou o primeiro semestre de 2021 com potência adicional de 1.787,4 megawatts (MW), sendo 1.422,9 MW provenientes de centrais eólicas (83% da capacidade instalada desde janeiro).

Para Joaquim Rolim, é preciso investir em ações educativas e estratégicas. “O consumidor poderia ser mais incentivado a poupar energia, sendo recompensado pelo não uso ou postergação do uso da energia nos horários de maior impacto. Outra possibilidade é o incentivo à utilização de equipamentos mais eficientes”, sugere.

“A forma mais rápida e eficiente para se disponibilizar mais energia é através da geração própria de energia, a chamada geração distribuída, que, além de não precisar de investimentos em linhas de transmissão e distribuição, libera capacidade no período da tarde, horário de maior consumo de energia. Temos mais de 15 mil empresas no País neste segmento, sendo mais de 600 no Ceará, que pode rapidamente responder a um programa de incentivos para a geração distribuída, com benefícios praticamente imediatos na preservação da energia armazenada nos reservatórios das hidrelétricas”,  acrescenta.

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