Economia

Consumidor muda hábitos para driblar efeitos da inflação no Brasil

Diante da alta dos preços no Brasil, consumidor tem procurado alternativas para diminuir os impactos no bolso e, consequentemente, não prejudicar o orçamento. Substituição de itens mais caros por mais baratos e diminuição no consumo de combustível e energia, por exemplo, estão entre as recomendações de economistas

Para gastar menos com gasolina, a auxiliar administrativa Mylenna Brito deixou o carro na garagem e passou a ir de bicicleta para o trabalho (Foto: Edimar Soares)

Giuliano Villa Nova
economia@ootimista.com.br

Há alguns meses, a auxiliar administrativa Mylenna Anemberg Fontenele Brito, 26 anos, resolveu tirar a bicicleta da garagem e utilizá-la para ir trabalhar. Ela sai de casa, em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, e percorre o trajeto até o trabalho, na capital cearense, todas as manhãs, de bike. Na volta, faz o mesmo trajeto, utilizando o equipamento. Ela resolveu tomar essa decisão quando percebeu que os gastos com gasolina, cujo preço médio se aproxima de R$ 6 no Ceará, e as passagens de ônibus estavam pesando no bolso.

“A tarifa está muito cara, além disso diminuíram os ônibus nas linhas, e eu estava me atrasando com muita frequência”, conta a profissional, que só vê vantagens na mudança. “Eu tenho gostado muito da experiência. Eu imaginei que seria muito cansativo, porém, tem sido prazeroso, além de econômico. Pelas minhas contas, eu economizo R$ 144 por mês, pelo menos. Além disso, estou me sentindo mais saudável e com mais resistência física. Foi uma boa mudança de hábito”, completa.

A exemplo de Mylenna, muitos consumidores estão modificando a rotina de gastos para driblar os efeitos da inflação, que deve terminar o ano, de acordo com projeções mais recentes do Boletim Focus, do Banco Central, em torno de 8,5%. Substituir alimentos mais caros por itens mais em conta e cortar determinados supérfluos passaram a ser decisões comuns no dia a dia do brasileiro.

“Estamos em um momento delicado, com quatro componentes de maior peso para o consumo: a inflação, com a alta generalizada de preços, serviços e produtos; a questão do dólar, porque uma parte dos insumos vem do exterior e pressiona os preços em geral; a alta da taxa de juros, que encarece o crédito; e a dificuldade de renda, pois os índices de desemprego continuam altos”, aponta Raul Santos, sócio-fundador da Aveiro Consultoria. “Esse conjunto de fatores traz uma dificuldade muito grande para a tomada de decisão do consumidor”, reforça.

Atitudes

Para a economista Desirée Mota, membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), este é o momento de o consumidor tomar atitudes práticas ligadas ao orçamento doméstico, como o controle mais rígido das contas. “Com a perspectiva de alta da inflação para os próximos meses, há necessidade de se continuar fazendo esses malabarismos. É preciso fazer uma planilha de acompanhamento e planejamento das despesas mês a mês, anotar o preço dos principais itens e prever quanto é preciso ter em caixa para as despesas fixas. Isso favorece o controle das contas e evita despesas que não de poderá administrar”, orienta.

Por sinal, a aproximação do fim do ano é um incentivo para gastos maiores. Mas não para Mylenna Anemberg, que garante: vai ter um Natal bem mais modesto do que em anos anteriores. “Tudo vai ser mais simples. A carne está caríssima, não pretendo fazer grandes compras. Tenho uma indenização que vou receber, nos próximos meses, mas pretendo investir esse capital em um curso profissionalizante, para poder ter uma nova renda, a partir do ano que vem”, afirma.

Raul Santos defende que o consumidor, nesse momento de contenção de gastos, utilize todos os recursos possíveis para controle orçamentário. “Uma vantagem é a grande quantidade de fontes de pesquisa. Atualmente, temos os meios eletrônicos, a internet, as informações nos grupos de WhatsApp, coisas que antigamente o consumidor não tinha. Para fazer a melhor escolha, era preciso ir de loja em loja pesquisando, ou olhar em vários anúncios”, diz.

Procedimentos básicos ajudam muito no controle das contas

De acordo com os especialistas, não é necessário ser um grande conhecedor de controles orçamentários para ter um maior domínio sobre os gastos mensais: uma simples planilha, por exemplo, pode ser uma ferramenta muito útil.

“Quem tem facilidade com tecnologia, pode fazer uso de planilhas do Excel, que trazem um mínimo de organização pessoal. Também existem aplicativos que ajudam a gerenciar as entradas e as saídas de dinheiro. E quem não gostar de tecnologia ainda pode usar o bom e velho caderno: só o ato de anotar as despesas e as receitas já ajuda a ter um controle melhor”, afirma Raul dos Santos, economista e sócio-fundador da Aveiro Consultoria.

Entre os aspectos que precisam ser mais trabalhados pelo consumidor, Desirée Mota aponta a conscientização dos familiares como ponto fundamental. “Todas as pessoas da casa devem estar conscientes dos gastos e saber que é importante fazer um esforço, no atual momento de dificuldade econômica no País, para economizar”, diz a membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

“Fazer um bom planejamento e um acompanhamento eficiente das despesas são atitudes importantes para que tudo caiba dentro do orçamento familiar”, ensina a economista. “E vale seguir todas as dicas possíveis: usar menos o chuveiro elétrico e trocar lâmpadas fluorescentes pelas de LED para economizar energia, utilizar mais caronas e aplicativos de transporte para gastar menos com gasolina, entre outras várias alternativas”, completa.

Contas em dia: dicas práticas para conter os gastos mensais

Organização pessoal: a recomendação principal é fazer uma planilha, anotando os valores de receitas e despesas, item por item;

Prioridade: a partir do controle de receitas e despesas, fica mais fácil saber para onde está indo o dinheiro e onde será preciso cortar, priorizando os gastos mais importantes;

Conscientização: o diálogo em casa, inclusive com as crianças e os jovens, é fundamental para todos estarem cientes de que é preciso ser moderado nos gastos com alimentação, transporte, combustível e energia;

Energia elétrica: para gastar menos com a máquina de lavar e o ferro elétrico, eleger um dia na semana para lavar e passar a roupa;

Revisões: pedir para um especialista fazer revisões nas instalações elétricas, a fim de identificar possíveis pontos de fuga de energia;

Promoções: esteja atento aos dias de promoções nos supermercados, pois isso favorece a economia com frutas, legumes e carnes.

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