Economia

Conceito do “faça você mesmo” cresce na pandemia e impulsiona reformas no lar

Crisley Cavalcante
economia@ootimista.com

Faça você mesmo! Quantas atividades no dia a dia a gente não domina, mas decide executar? Se tarefas desse tipo dizem respeito a trabalhos manuais dentro de casa, como pequenas reformas, o desafio é um pouco maior. A jornalista Gabi Dourado topou experimentar esse universo e, literalmente, “meteu a mão na massa” para reformar o apartamento onde mora, em Fortaleza.

Com a chegada da pandemia de covid-19, assim como milhares de brasileiros, ela percebeu que teria de ficar muito tempo em casa, no home office. O lar, além de moradia, precisava ser um local de trabalho aconchegante. O primeiro passo da transformação foi listar os materiais necessários para começar a reforma.

“Como tudo na vida, quando demanda mais atenção, percebemos melhor as imperfeições. E também comecei a notar imperfeições na minha casa. E foi aí que surgiu a ideia de deixá-la mais aconchegante. Aos poucos, foi ficando divertido. É claro que é cansativo realizar trabalhos braçais, mas também é muito gratificante”, diz.

E foi assim que Gabi começou a mudar os ambientes do apartamento, principalmente, o escritório. Reformou a mesa, pintou as paredes e instalou cortinas e quadros. A nova atividade, lúdica e terapêutica, até reduziu a crise de ansiedade que queria se instalar por conta da pandemia. Para além da reforma do lar, ela descobriu habilidades que não tinha, superando obstáculos que apareceram com a reforma.

“São dificuldades de iniciantes, que a gente aprende com elas e depois se torna divertido. Mas celebrar as imperfeições é a grande sacada de quem decide colocar a mão na massa. A casa passa a ter uma história para contar, por não ter sido montada por outras pessoas. Tudo isso pode ser  feito de um jeito mais orgânico e com a participação de quem mora no lugar. Tem um sabor de conquista”, comemora.

Seguidores

Hoje, a jornalista divide com seus seguidores nas redes sociais essa história. “Quando olho para aquele espaço que fiz, me sinto encorajada a trabalhar e criar mais. Geralmente, as mulheres são desencorajadas a fazer pequenos trabalhos braçais, mas é uma delícia se sentir capaz de realizar atividades que acreditam que não são para a gente. Compartilho para encorajar outras mulheres a fazerem o mesmo. Mulher não precisa de homem nenhum para desenvolver habilidades e fazer certos trabalhos”, afirma.

A história de “mão na massa” de Gabi Dourado ajuda a engrossar uma estatística que cresceu na pandemia: a prática do faça você mesmo (do inglês, do it yourself, ou D.I.Y.). De acordo com pesquisa feita pelo Facebook Audience Insights, o Brasil tem aproximadamente 30 milhões de pessoas interessadas no D.I.Y., sendo 70% mulheres e 30% homens. As buscas com a hastag #facavocemesmo, inclusive, vem crescendo ao longo da pandemia.

Movimento

O movimento surgiu em 1912 como método de manutenção e melhoramento da casa, a partir de materiais já à disposição dos moradores. Foi na década de 1950, nos Estados Unidos, que a prática ganhou força. A partir da pandemia, com a necessidade do isolamento social, o D.I.Y ganhou ainda mais adeptos mundo afora.

O faça você mesmo envolve pequenos consertos. O método consiste em buscar ferramentas para fazer o que precisa no dia a dia, como montar um móvel, trocar um chuveiro, confeccionar e customizar roupas ou criar peças de decoração. Aqueles pequenos retalhos de madeira ou garrafas pets que, muitas vezes, vão parar no lixo podem se transformar em objeto de decoração cobiçado

Além disso, o conceito pode ser aplicado na marcenaria utilizando pallets para criar mesas, bancos e até camas. Além de economizar na mobília, é possível deixar o ambiente de casa com a cara de quem faz. Aquela blusa que manchou, por exemplo, não precisa ser descartada. Com linha, agulha, miçangas e outros tecidos, é possível criar uma peça ainda mais bonita.

Tendência beneficia lojas de home center e construção

O aumento da demanda por reformas em casa cresceu ao longo da pandemia e ajudou o mercado de construção e home center a se manter aquecido. O diretor comercial da Normatel, Antônio Mello Júnior, observa que a empresa cearense nunca vendeu tanto como durante a crise sanitária. A demanda continua aquecida e, com a manutenção do home office ou implantação do sistema híbrido de trabalho, a tendência é que o segmento cresça ainda mais.

“Muitas pessoas quiseram tornar mais aconchegante e confortável o ambiente de trabalho. As lojas do segmento, então, venderam muitos produtos para esse tipo de reforma, desde a parte elétrica à ornamentação e itens para decoração. Nós não tínhamos histórico ou pesquisa para aferir esse segmento, mas percebemos o quanto foi expressiva”, destaca.

Pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que representa mais de 2.600 marcas de franquias do País, indica que, no primeiro trimestre deste ano, o segmento de casa e construção avançou 36,5%. O avanço foi puxado por fatores como a necessidade de reparos, manutenções e reformas, em razão do home office ou das aulas a distância.

Nesse contexto, a professora Sara Goiana também aproveitou o momento da pandemia, quando passou a ministrar aulas de casa, para apostar em novas habilidades. Mais do que economizar com a reforma, ela descobriu que pode fazer sozinha tarefas que sequer imaginava que teria condições.

“Tudo na pandemia ficou muito caro. Eu precisava de uma pintura no meu apartamento e resolvi fazer sozinha. Comprei o material e fui em frente. No início, senti dificuldade, mas depois consegui me adaptar à forma de trabalho. Pintei o meu quarto inteiro sozinha. Quando vejo o resultado, sinto orgulho do que fiz e do quanto economizei. Se fosse pagar um profissional, teria muito mais gasto”, aponta.

“Esse segmento teve aceleração notória durante a pandemia. As pessoas começaram a passar mais tempo dentro de casa e muitas resolveram reformar o ambiente, apostando no “faça você mesmo”. A construção de novos espaços para trabalho e lazer dentro do lar movimentou muito o segmento de construção, contribuiu para a geração de emprego. Pois, à medida que vendem mais para reformas, as empresas não precisam demitir, e fazem é contratar”, diz o economista Wandemberg Almeida, membro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE). Ele lembra que, com a maior procura pelos home centers, o preço das mercadorias ligadas à reformas ou construção também aumento no Brasil.

 

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