Economia

Guerra entre Rússia e Ucrânia deixa mais difícil controle da inflação no Brasil neste ano

Pesquisa da FGV revela que as turbulências na Ucrânia devem agravar ainda mais as incertezas sobre a economia mundial. No Brasil, combustíveis, câmbio e alimentos são segmentos que começam a sentir com mais força os impactos do conflito

Aumento dos combustíveis deixa produtos e serviços mais caros no Brasil (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

A guerra da Rússia contra a Ucrânia ocorre a mais de 10 mil quilômetros de distância do Brasil, mas os impactos desse conflito já estão sendo sentidos bem de perto pelos consumidores brasileiros. Isso ocorrer basicamente em razão do mundo globalizado e das importações e exportações entre os países.

No caso do Brasil, três segmentos começam a sentir com mais força os impactos do conflito: combustíveis, câmbio e alimentos. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que as turbulências na Ucrânia devem agravar ainda mais as incertezas que pairam sobre a economia, não apenas no Brasil, mas no mundo.

O estudo ouviu 160 especialistas em 15 países e mostrou que, na média da América Latina, o Índice de Clima Econômico caiu 1,6 ponto do quarto trimestre de 2021 para o primeiro trimestre deste ano, de 80,6 para 79 pontos. No Brasil, o indicador recuou 2,8 pontos, de 63,4 para 60,6 pontos, apresentando a menor pontuação entre os países pesquisados.

A inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teve alta de 1,01% em fevereiro, a maior variação para o mês desde 2015, chegando a 10,54% nos últimos 12 meses. O indicador, em dois dígitos, está distante da meta de inflação perseguida pelo Banco Central. O centro da medida de referência neste ano é de 3,50%. O teto é de 5%.

Na avaliação do professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e conselheiro federal de economia, Lauro Chaves, a invasão da Rússia na Ucrânia tem impactos muito grandes na economia mundial.

“Tanto pela guerra em si, pois envolve recursos naturais, uma vez que a Ucrânia é muito rica e é passagem para o petróleo e gás que a Rússia envia para a Europa, como também pelo impacto indireto das sanções econômicas que países desenvolvidos impuseram à Rússia”, afirma.

O economista observa ainda que, caso haja prolongamento do conflito, os efeitos de alta da inflação serão evidentes.

Combustíveis

De acordo com a FGV, o principal segmento por meio do qual a crise no Leste Europeu pode chegar à economia brasileira é o combustível.
No último dia 8 de março, o barril de petróleo do tipo Brent chegou a US$ 127, o maior patamar desde 2014. Na semana passada, por exemplo, a Petrobras anunciou reajuste de 18,7% para a gasolina e de R$ 24,9% para o diesel.
“Em relação aos combustíveis, vai afetar toda a cadeia logística de distribuição e transporte, além do mercado de commodities, no qual o Brasil é um dos maiores players do mundo, refletindo também a já fraca retomada do nosso crescimento econômico”, destaca, lembrando que “devemos esperar que seja encontrada solução diplomática o mais rápido possível para cessar esse conflito, para que esse impacto econômico seja administrado”, reforça Lauro Chaves.

A Rússia é o maior produtor mundial de fertilizantes, que também são afetados pelo petróleo mais caro. Atualmente, o Brasil compra 20% dos fertilizantes do mercado. “Outro grande impacto é o aumento no preço dos fertilizantes, que pressionam a alta de outros produtos. Rússia e Ucrânia produzem muito trigo, e isso vai impactar no valor de outros produtos alimentícios. O efeito de tudo isso será concreto na inflação”, diz a presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente.

Câmbio

Outro fator que pode afetar a economia brasileira é a desvalorização do real em relação ao dólar. Por enquanto, os efeitos no câmbio são pequenos porque o Brasil foi beneficiado por uma queda de quase 10% da moeda norte-americana no acumulado de 2022.

Caso o dólar volte a subir e a inflação não ceder, o Banco Central pode, mais uma vez, aumentar a taxa básica de juros (Selic), prejudicando assim a retomada do crescimento econômico do País em 2022. Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano.

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