Economia

Aumento dos juros não segura inflação e prejudica recuperação econômica no Brasil

Taxa Selic subiu de 6,25% para 7,75% ao ano, aumento de 1,5 ponto percentual. Banco Central busca conter avanço dos preços no País, que tem impactado toda a cadeia produtiva nacional e o consumidor, mas estratégia não tem surtido efeito

Diferentemente do esperado, aumento da Selic não está conseguindo frear o avanço da inflação no País (Foto: Edimar Soares)

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por unanimidade, aumentar a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano. O aumento de 1,5 ponto percentual, o sexto consecutivo, busca conter o avanço da inflação no Brasil, que tem impactado toda a cadeia produtiva nacional e, principalmente, o consumidor. A alta da taxa básica de juros, no entanto, não está sendo suficiente para frear o aumento dos preços e prejudica o processo de retomada econômica do País, após quase dois anos de pandemia de covid-19.

Para o economista Ricardo Eleutério, o efeito dessa política econômica não tem surtido o efeito esperado. “Já estamos realizando essa sistemática desde o começo do ano. Iniciamos a trajetória de elevação por conta da inflação galopante no País, que acumula aumento de 10,25% em 12 meses”, observa, citando os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Neste ano, de janeiro a setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,90% no Brasil. “Por isso, a expectativa do mercado tem variado bastante em relação aos novos aumentos da Selic, pois o custo será a elevação da taxa de juros e de crédito para consumo e produção de forma imediata, o que inibirá o crescimento econômico e a geração de emprego”, reforça Eleutério, que também é membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

Setor produtivo

A projeção do setor produtivo segue na mesma toada. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) entende que o aumento da Selic aumenta o risco de uma nova recessão, em um cenário em que a produção industrial e o mercado de trabalho ainda buscam voltar aos índices pré-pandemia. “Ao perseguir a meta de inflação do ano que vem com aumentos expressivos da Selic, o Banco Central põe em risco a recuperação econômica e aumenta a probabilidade de uma recessão no próximo ano”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, a elevação da taxa de juros não conseguirá, a curto prazo, gerar queda na inflação, que deverá fechar este ano em 8,75%, conforme a última projeção do Boletim Focus do Banco Central.

“Há outras variáveis, como o desequilíbrio fiscal que gera incerteza nos investidores internacionais. E, como consequência, estimula o crescimento do câmbio, importação elevada, principalmente de combustíveis, o que faz com que os produtos do Brasil sejam exportados, uma vez que os produtores preferem vender para o mercado externo do que interno”, analisa, lembrando do possível do aumento da Selic impacto também no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, cuja estimativa está em 4,97%.

De acordo com ele, com o aumento da Selic, a tendência é que o crédito também fique mais caro no Brasil. “Isso vai dificultar a possibilidade de investimentos do processo produtivo e de financiamento ao consumidor final, principalmente relacionado às compras do consumo do dia a dia, gerando, assim, maior dificuldade na recuperação da economia”, reforça.

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