Economia

Aumento na conta de luz deve fazer Brasil perder R$ 22,4 bilhões no PIB em dois anos

De acordo com levantamento da CNI, o aumento da tarifa de energia elétrica no País, puxado pela crise hídrica, resultará numa queda de R$ 8,2 bilhões da atividade econômica neste ano. Para 2022, a perda no PIB é estimada em R$ 14,2 bilhões

Considerando apenas o PIB industrial, a perda estimada para este ano é de R$ 2,2 bilhões (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)

Crisley Cavalcante
economia@ootimista.com.br

O alto custo da energia elétrica, um dos atuais “vilões” da inflação no País, vem trazendo graves consequência para a economia brasileira. Com a crise hídrica ainda preocupante, a expectativa é que, em 2022, o consumidor continue sentindo no bolso o peso na conta de luz, que deverá ter aumento médio de 21% para clientes residenciais (baixa tensão). A projeção é da Agência Nacional de Energia  Elétrica (Aneel), bem maior que o previsto para este ano (7,04%).

Segundo o estudo “Impacto econômico do aumento no preço da energia elétrica”, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), neste ano, o aumento na conta de energia elétrica resultará numa queda de R$ 8,2 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), em comparação com o que ocorreria sem a atual crise energética pela qual passa o País. Para 2022, o valor é estimado em R$ 14,2 bilhões, somando prejuízo de R$ 22,4 bilhões em dois anos.

O levantamento revela que, por conta do problema, o consumo das famílias será reduzido em R$ 7 bilhões, as exportações terão perdas equivalentes a R$ 2,9 bilhões, e o impacto no emprego será de menos 166 mil postos de trabalho. Além disso, em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) industrial deve ter redução de R$ 2,2 bilhões em relação ao que seria sem o aumento de custo da energia elétrica. Para 2022, a CNI aponta que o aumento na conta de luz resultará em R$ 3,8 bilhões no PIB da indústria.

Para o consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará, Jurandir Picanço, a situação é gravíssima. “É um aumento elevadíssimo, mesmo já estando o País em um patamar inflacionário elevado. Tudo isso afeta os custos da indústria, serviços e comércio, refletindo diretamente no consumo. É uma situação extremamente preocupante”, afirma.

Ele avalia que, para o consumidor final, há duas opções: economizar ou produzir a própria energia, o que não é tão simples. “Há essa condição de produção da própria energia. A única questão é que, quando se opta por isso, é preciso fazer investimento inicial relativamente alto, e nem todo mundo possui recursos ou crédito para isso. Mas, aqueles que fazem se sentem recompensados e satisfeitos”, afirma.

Além da crise hídrica, no Brasil, a carga tributária sobre a energia elétrica é outro fator preocupante. Ao todo, são 16 encargos, impostos e taxas setoriais incorporados à conta de luz e correspondem a 47% do custo total do serviço.

Falta de planejamento

Para o economista Fran Bezerra, membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), a atual situação energética no País é fruto da falta de planejamento do governo. “Precisávamos ter percebido essa crise hídrica há, no mínimo, quatro anos. Se já estávamos no limite, era preciso ter maior incentivo a outras matrizes,  como as energias eólica e solar. Não fizemos o dever de casa e, por isso, estamos com essa crise que se estenderá para o ano que vem, quando deveremos continuar consumindo energia bem mais cara, com o acionamento das usinas termelétricas”, observa.

Para ele, essa situação vai gerar uma grande escala de problemas. “Com o aumento da energia elétrica, insumo fundamental para todos nós, o preço de outros produtos e serviços também ficarão mais caros, gerando mais inflação e prejudicando a economia do Brasil. Isso nos leva a problemas como PIB e nível de emprego menores, mesmo com a retomada econômica do pós-covid”, destaca.

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